sexta-feira, setembro 30, 2005

Sem humortolerante

- O que houve? Nariz sangrando?

- É. Cocaína.

- Como?

- Resolvi fazer jus a minha inaptidão em doar sangue. Ontem, cheirei. Na semana passada, fiz tatuagem e fui ao prostíbulo. Na anterior, assaltei um posto e fui preso. Tenho me embriagado todos os dias para ver se tenho uma cirrose e para manter a frequência de uma parceira por dia, falta eu transar com você!

- ...

Apatia

- Fala "ah" pra tia!

Estava na cadeira da minha tia, dentista. Aplicou a anestesia e começou a cirurgia que me deixaria desajuizado. Eu tinha três juízos.

Desde então, não sinto mais nada. Nem dor, nem sentimentos. Só apatia.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Sem compaixão

Deixa se arrepender por todas as carícias recusadas todas as intimidades não trocadas todos os orgasmos não explodidos

Deixa se arrepender por todas as crises de ciúme todas as discussões planejadas as desculpas esfarrapadas

Deixa se arrepender... É para isso mesmo que servem os erros.

Des-in-pensando

O chuveiro que não esquenta. O trânsito que não anda. Os espirros que não param. As letras que não saem...

terça-feira, setembro 27, 2005

Devo deixar o mundo?

Quero ficar sozinho Para chorar minha solidão Mas o mundo me pressiona O mundo não me deixa

segunda-feira, setembro 26, 2005

Uma companheira

Uma velha conhecida.

- Olá, minha cara! Há quanto tempo?

- A quem quer enganar, rapaz?

Quem quero enganar? Tento ignorá-la, mas ela me acompanha há muito tempo.

- Tenta mesmo? Já parou para pensar nas companhias que arruma?

Na empresa, no exército, no teatro, nenhuma intimidade. Busco companhias que me deixam só.

- Sabe o que eu acho? Você não quer ninguém, só quer a mim!

Olho de soslaio. Não quero, não. Só não consigo me livrar.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Em conflito

Não bebo vodca, nem tequila, nem aguardente. Bebo uísque. E ontem, enfim, Ele me acompanhou numa rodada...

- Nego-Te, e me contradizes. Afirmo-Te, e me abandonas...

- Eu prefiro o meu on the rocks, não gosto de puro!

Um conflito. Um, não dois. Eu também prefiro com gelo. Pedi puro por pura autoflagelação.

- É isso, não? Não há como sair vencedor. É possível o empate?

- Não aceito. É tua vez agora!

Estou com as brancas, mas perdi a iniciativa faz tempo. É o meio de jogo, ainda não há vantagens de material para nenhum dos lados, mas vislumbro ser impossível vencer a partida. Posso deitar o rei ou forçar o empate.

Agora sim, dois conflitos.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Prece

Ó meu Pai! Sofro. Sou dilacerado por essa chaga que me dói. Dai-me forças, Pai! Dai-me forças! Dai-me luz! Para suportar a dor, para curar a ferida, para esperar a cicatriz...

quinta-feira, setembro 15, 2005

A Dona

Sinto que a morte me acompanha de perto. Algo que eu não sentia antes. Isso porque eu buscava me afastar dela, mas na verdade me afastava apenas do medo que tenho dela. Ao me ver longe do medo, não enxergava o quanto a morte está próxima. E bem próxima...

Enquanto a gente vive, a gente morre. Gente morre. E eu também. Enquanto eu vivo, eu morro. Vou morrendo e vou vivendo... Ou vou morrendo. Viver é opção. Morrer não!

- Bom dia, minha senhora, lindo dia, não? Sempre tratei bem as damas, mesmo as prostitutas.

- Sua?

A gente tem a vida. A morte, ela nos tem.

Suicida subversivo

Suspeito que a vida não tem sentido, que não há diferença nenhuma em existir e não existir e que Deus não existe. Contudo, tenho uma bússola e tenho medo da morte.

terça-feira, setembro 13, 2005

O norte à morte

À morte, leva a estrada da vida. Ao norte, é a direção da vida. Pelo norte, é o fim da vida. Pela morte, é o caminho para Deus.

A morte ao norte

Nada do que for feito vai adiantar. Nada do que for feito vai fazer diferença. Qual a diferença, então, entre existir e não existir?

Os caminhos sempre foram múltiplos. Mas antes, minha bússola não girava enquanto fico parado.

O Norte! Onde está o Norte?

A Morte?!

segunda-feira, setembro 12, 2005

Mais uma última batalha

Relâmpago. Claridade. Trovão. Muita água despencando dos céus.

A três metros de si está seu oponente. Com as duas mãos, empunha uma montante. Encaram-se. Desembainha sua espada. O escudo no antebraço esquerdo.

Quando será a última batalha? É o que sempre se pergunta, antes de iniciar cada combate.

No passado, sentia a goela secar, o coração saltitava e a adrenalina corria todo o corpo. Havia sentido nas lutas. E queria sempre sobreviver. Hoje, parece um iceberg. O sentido é a luta em si. E não se importa se continuará de pé ao final.

Quando será a próxima? É o que sempre perguntava ao seu pai, quando findava a última peleja.

Traz da memória aqueles bons momentos. Quer tê-los na mente antes de expirar. Essa pode ser sua última batalha.

Um suspiro. E as espadas começam a se chocar...

sexta-feira, setembro 09, 2005

O cavaleiro negro

O cavalo já cavalgava a alguns dias. Não menos que três, não mais que cinco. Em seu dorso, estatelado, o cavaleiro. Estava vivo, porém ferido, e dormia. Um golpe de maça que fraturou seu braço esquerdo. Uma flecha que atingiu seu ombro direito. A espada guardada na bainha presa às costas. O escudo estilhaçado a quilômetros dali pela maça de seu último oponente que, a essa hora, era bicado por abutres.

Era soberano, não servia a nenhum senhor. Seu pai foi o único a quem deveu lealdade. Com sua morte, tornou-se um mercenário. Lutava por ouro e prata. Mas lutava pela batalha em si. "Não se pergunta por que os campos queimam ou por que uma peste se alastra, então não me pergunte por que eu luto", disse uma vez a um guerreiro.

Vivia pela luta. Vivia de luto. Era um cavaleiro só. O cavaleiro negro.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Espaço inconstante

Hoje o tempo está constante. Outrora, acelerava e desacelerava vertiginosamente, provocando enjôos de angústia e ansiedade. Mas hoje, está constante.

Estamos eqüidistantes, mas a constância do tempo nos faz estarmos cada vez mais distantes...

E o tempo continua constante. E nossas latitudes e longitudes também. Mas deveriam estar iguais, não só constantes.

terça-feira, setembro 06, 2005

Complexo de Elektra

A mãe quer o filho. A filha quer o pai. E ele... quer Elektra!

Subvertempo

Tempo esquizofrênico! Ora é frio, ora é quente, ora é chuva, ora é sol... E agora, é ora o quê?

Três mulheres

A mulher do boi excita. Instintiva, sacia todos os seus desejos. A mulher da águia calcula. Defensiva, desconfia de todos os seus gestos. A mulher do leão inexplica. O coração acelera, as pernas tremem e o corpo se molha frio.

Existem as três, talvez queira as três, talvez tenha nenhuma.

Às letras

Chega de meta-letras! Quero as letras! Preciso das letras! A elas, enfim.

Letras purulentas

Letras de mau hálito exaladas por homem infeccionado. Letras cheia de pus que denotam a doença que corrói o espírito. Por isso que o corpo não morre. Mas sofre. Quando expele a pus, por expeli-la. Poderia ser o título disso tudo. Talvez seja...

In-pensato

In-pensato. Um projeto. Um me-desafio proposto. Letras do pensamento, impensadas. Necessidade-desejo de expressão.

A qualquer hora, em qualquer lugar - se estiver conectado - um e-mail é o meio para canalizar tais letras. Bem a calhar para tal exercício. Por isso, uma coletânea de letras. Não ousam se reclamar palavras...

No final, pode ser tudo pura hemorragia alfabética. Pura verborragia. Pode ser, não sei... Agora é.