sexta-feira, janeiro 27, 2006

Aos melhores do mundo

- Eu saia correndo atrás do carro quando escutava a sirene tocando. Desde criança, sonhava em ser bombeiro. Graças à Deus, eu consegui me preparar e entrar para a corporação. Minha vida está realizada!

Ele jogava futebol todos os dias, na rua quando era moleque, nas várzeas, quando um pouco mais crescido. Desde sempre sonhava em ser jogador de futebol. Aos dezesseis anos optou por prosseguir com os estudos. Percebera que não teria chance alguma em se tornar profissional.

- A população pode se orgulhar em possuir um dos três melhores Corpo de Bombeiros do mundo. Não devemos nada com relação aos bombeiros dos demais países!

Estava em seu carro, no trânsito da cidade, a caminho do escritório. Escutava o noticiário. E deixava rolar uma lágrima pelo rosto.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Caminhada

Caminha pelas ruas das memórias de infância. Pára ao lado de um bar, um boteco. Vê os abdômens dos bebuns encostados no balcão, e os copos de aguardente levados à boca. Sente um nó no abdômen, uma vontade de chorar. Senta no chão. Contempla o estabelecimento e deseja correr para bem longe... para o início do passado.

Pesadelo de cravo

Barba por fazer há alguns dias. Acorda mais ou menos cedo, toma banho e faz a barba. Vem para o trabalho, toma café e senta à sua mesa. Liga as coisas e reflete. Enquanto pensa na vida, a cara é escarafunchada e os cravos são arremessados longe...

sexta-feira, janeiro 20, 2006

"Sinto muito blues"

"(...) se meu passado fosse outro.. se fosse outro o presente... se o futuro nos trouxesse o que faltava antigamente eu cantaria as canções que se fazia de repente sacro sino compunha minha sina, tua unha carne, sangue & pus (...)"

- Pampa no walkman, H. Gessinger

Idéia

Acho que eu devia largar mão de ser idiota e aproveitar que por enquanto estou com tempo livre para descansar.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Estranha atmosfera

Os subterrâneos estão testemunhando o sórdido. E das frestas dos porões está exalando um cheiro de carniça queimada.

O ar está nauseabundo. Sinal de que preciso ser cauteloso daqui em diante.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Até quando estourar

Estou pagando meus pecados.

Estou deixando o cabelo crescer.

Estou trabalhando longe demais de casa.

Estou lendo Dostoiévisk, Carlos Drummond de Andrade e a Bíblia.

Estou namorando a mulher mais bonita do mundo.

Estou respirando... até quando?

Dia azul marinho

O dia estava azul, continuação da noite anterior, também azul.

Mas o dia escureceu. Havia um gosto de carne mal digerida no estômago que sucedeu o encontro com fantasma nem recente e nem antigo. Ao fim da noite azul, bem após o início do mesmo dia azul, ela apareceu. Disse que estava bem, que sua barriga era fruto de muita comida, e me preparou um prato de comida.

Mas eu sabia que onde ela estava comida não dava barriga. Aliás, nada dava barriga. Fica-se do mesmo jeito sempre, ou fica-se como eu quiser. Por que então a forma de uma mulher grávida?

Na noite azul anterior eu havia encontrado uma mulher grávida. Foi isso que pensei. Mas não pensei nela. Por que ela veio então? Para me dizer algo? Só para me dizer que estava bem?

Como das outras vezes, não estava assustado. Mas como das outras vezes, estava atrasado. E talvez por isso o dia escureceu, e talvez também porque as coisas não estão bem para onde vou.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Lúcifer Jean

Tinha que ir embora. Não sabia porque, não sabia de onde, não sabia para onde. Estava num fusca. Não gosto de fuscas, nunca consegui dirigir direito, mas foi com ele que saí.

O carro obedecia mais meus pensamentos do que meus pisões nos pedais. Pegou velocidade rápido. Virei numa esquina e desci a ladeira. Alguém atravessava a rua.

- Vai cara feia! Pega ele!

Não sei de onde veio essa voz, mas tive a sensação de descobrir a razão da minha fuga. O cara feia pulou no capô. Quis frear, quis acelerar. Nada. O carro não tinha pedais e nem mais obedecia meus pensamentos.

A cara feia apareceu no pára-brisa. Um morto-vivo, um zumbi, um mendigo, sei lá. Mas me era familiar. Um personagem da infância. Lúcifer Jean!

Ele gritou. E eu também. Só parei quando acordei.